Pe. Ari Antonio dos Reis
Seminarista Renan P. Zanandréa

Combati o bom combate, guardei minha fé (cf. 1Tm4,7)

O mês de junho chegou ao final e apresentou-nos o inverno com grande intensidade. Permitiu também que revisitássemos a biografia dos grandes santos da Igreja, conhecidos no Brasil como santos populares.

De Santo Antonio, celebrado em 13 de junho, herdamos a tradição popular de bênção e distribuição dos pães, além do aprendizado da necessidade do pão da Palavra e do pão como alimento físico na estruturação do ser humano. Então cantamos: “não pode faltar a Palavra, não pode faltar-nos o pão”.

O jovem Luís Gonzaga, de memória celebrada em 21 de junho, legou à humanidade o sentido da vida colocada a serviço dos pobres. Era de família nobre e não hesitou em renunciar aos bens para fazer-se religioso vivendo os votos de pobreza, obediência e castidade. Já religioso jesuíta e vivendo em Roma, dedicou grandes esforços no tratamento das pessoas doentes devido a uma grande peste que assolou a cidade. Nessa missão perdeu a sua vida. É conhecido como o padroeiro dos seminaristas e da juventude.

São João Batista, cuja solenidade da sua natividade foi celebrada em 24 de junho, ensina o sentido da profecia, uma necessidade em todos os tempos e mais ainda na atualidade. O filho de Isabel e Zacarias não teve medo de denunciar as situações contrárias ao desejo de Deus. A novidade vinda do deserto exigia a conversão, a mudança radical de vida. Foi também o anunciador do Salvador, aquele que batizaria as pessoas no fogo do Espírito. Então, além de profeta, foi o precursor de Jesus Cristo.

Celebramos também, no dia 29 de junho, a memória de Pedro e Paulo, considerados “colunas da Igreja” pelo testemunho de deixaram. Eles têm histórias de vida diferentes. Possivelmente tenham se conhecido (At 15,1-12) em Jerusalém, embora não conviveram na missão. De maneiras diferentes contribuíram para a expansão missionária da Igreja nascente. “Conheceram e experimentaram Cristo de formas diferentes, mas é único e idêntico o testemunho que deram de Jesus. Eles (…) são figuras típicas do cristão, com suas fraquezas e forças” (Bortolin, 2015, p. 756).

Pedro achegou-se a Jesus após o chamado para a missão com a exigência de deixar o trabalho da pesca (Mc 1,16-20; Mt 4,18-22; Lc 5,1-11). Nos caminhos da Palestina foi descobrindo o projeto de Jesus, não sem tensões (Mt 16,23; Mc 8,33). Recebeu o Mestre uma tarefa importante a partir da sua proclamação de fé (16,18). Após a ressurreição, confirmado na missão, testemunhou a proposta do Ressuscitado convidando as pessoas à conversão (At 2,38-40), abrindo-se também ao compromisso do anúncio do Evangelho aos povos que não eram da tradição judaica (At 10,47). Perdeu sua vida em Roma, último trecho da sua vida missionária. Pedro é a rocha firme na fé. Embora tenha se abalado algumas vezes diante da missão proposta por Jesus, sua fé não esmoreceu. Por isso o convite para ser a pedra sobre a qual seria edificada a Igreja (Mt 16,18).

Paulo era um judeu instruído e cidadão romano. Nessa condição se fez perseguidor dos cristãos, o que considerava uma boa causa (At 8,1-4;9,1-2). Na sua conversão contou com o auxílio da comunidade cristã, que zelou pela sua saúde e o instruiu na fé (At 9,16-19a). O espírito irrequieto do apóstolo e a convicção missionária expressa nas palavras “ai de mim se eu não anunciar o evangelho” (1Cor 9,16), impulsionaram suas viagens e a fundação de comunidades cristãs, sozinho ou acompanhado. Depois do primeiro contato visitava ou escrevia cartas, ajudando as comunidades a viverem a fidelidade à fé cristã. Aproveitava-se da capacidade de escrever para manter, via cartas, contato afetivo, orientador e estimulador da caminhada dessas comunidades. Paulo linha como característica a liberdade, que foi fundamental para sua abertura à novidade do Espírito, permitindo o anúncio livre do Evangelho a tantos povos. Por meio da leitura de suas cartas, é possível compreender um pouco da teologia que sustentava o agir missionário de Paulo. Ao final da sua vida, escrevendo a Timóteo, revelava-se convencido da validade do projeto que assumiu, pois havia combatido o bom combate na fé. E esta mesma fé lhe dava a certeza de um fim glorioso (2Tm 4,6-8).

Aproveitemos a vida desses santos como um testemunho crível e fértil para a nossa vida de fé. O Papa Francisco lembra que a santidade é o rosto mais belo da Igreja (GeE 8). Não é a beleza rasa, superficial, sustentadora do mercado egolátrico, mas a beleza que brota de uma vida doada a serviço do outro como testemunho do Reino anunciado por Jesus (GeE 7). Dos santos populares celebrados no mês de junho, olhemos seus testemunhos de vida e missão, que expressam a todos o convite do Pai à santidade. Cada um é chamado a viver a santidade conforme seu estado de vida, dando testemunho fiel neste mundo e neste tempo, assumindo esse compromisso de fé.

*Texto elaborado originalmente para o blog da Rádio Planalto, de Passo Fundo.


Autores

Pe. Ari Antonio dos Reis

Mestre em Teologia Pastoral (Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção); professor na <a href=”http://itepa.com.br/” target=”_blank” rel=”noreferrer noopener”>Itepa Faculdades</a> nas áreas de Metodologia e Prática Pastoral e Revelação.

Renan Paloschi Zanandréa

Licenciado em Matemática e bacharel em Filosofia (Universidade de Passo Fundo – UPF); bacharelando em Teologia (Itepa faculdades). <a href=”https://www.diocesevacaria.com.br/seminario-nossa-senhora-da-oliveira/”>Seminarista do segundo ano da etapa da Configuração, Diocese de Vacaria/RS.</a>

Imagem por Fra Angelico. Domínio público, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=3000363
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