A Igreja vive um tempo de graça e, também, de grandes desafios. A provocação do Papa Francisco, para aprofundarmos a reflexão e a prática da sinodalidade, proporciona rever o modo da Igreja ser e agir. Em sintonia com o Concílio Vaticano II a Igreja é chamada a ser sinodal. O resgate da compreensão da Igreja como “povo de Deus”, coloca o desafio da participação de todos os fiéis, cuja missão é, não somente de acatar as decisões “que vem de cima”, mas também de decidir os rumos por onde a Igreja precisa caminhar. Se a Igreja é povo de Deus, é como povo que ela precisa caminhar. Não se isolar ou separar; nem se elitizar e se quebrar em blocos. Pelo batismo, cada fiel recebe o Espírito Santo e participa da missão de discernir os caminhos da fé e da construção do Reino.
A experiência da Igreja primitiva, relatada nos Atos dos Apóstolos, expressa profunda sinodalidade. No pentecostes, “cada qual os ouvia falar em seu próprio idioma” (At 2,6). A representatividade “de todas as nações que há debaixo do céu” (At 2,5), restaura a unidade perdida em Babel (Gn 11,1-9), constituindo o novo povo de Deus, na diversidade de povos e culturas, cada qual expressando a mesma fé a partir de sua realidade. Todos tinham voz e vez, guiados pelo Espírito Santo.
A unidade da Igreja, que caminha junto, é visível também nos dois retratos da primeira comunidade cristã, apresentados por Lucas (At 2,42-47; 4,32-35). O termo “koinonia”, traduzido por “comunhão” (At 2,42) é muito significativo, o qual exprime e reforça a união dos corações, em torno do Evangelho recebido de Jesus Cristo, com todos os bens espirituais que traz consigo. O testemunho da fé e o envolvimento na dinâmica da evangelização produzia muitos frutos, e o número dos cristãos aumentava a cada dia (At 2,47). A unidade dos cristãos, que fazia a Igreja ter “um só coração e uma só alma” (At 4,32), demonstra que todos tinham os olhos e os pés na mesma direção.
No momento em que nosso Papa convoca para ampla participação da Igreja no próximo Sínodo, em que justamente o tema é sobre a sinodalidade, vemos que isso se apresenta, não como mais um tema, mas trata da essência da Igreja. O que diz respeito a todos, por todos deve ser discutido, num espírito de comunhão. Talvez seja um passo definitivo, que retoma nova dinâmica no jeito de conduzir a Igreja, caminhando juntos, ou melhor, fazendo o caminho juntos.
A meta de construir juntos o caminho, a partir da diversidade de contextos, é tarefa árdua, porém necessária, tendo como meta a vivência do Evangelho. Exige educar-se para a sensibilidade de buscar a unidade na diversidade, revendo as ações que já existem e propor novo jeito de viver a missão. Cada diocese é uma porção do povo de Deus, e como tal, é a Igreja na sua inteireza. É preciso respeitar a organização de cada diocese, chamada a construir seu caminho de vivência do Evangelho, como sinal do Reino de Deus, sem perder a comunhão com a Igreja Universal.
Autores
Pe. Ademir Rubini
Presbítero da Diocese de Chapecó. Doutor e Mestre em Teologia, área de concentração: Bíblia, EST, São Leopoldo, RS; Bacharel em Filosofia, UPF, Passo Fundo, RS; Licenciado em Ciências, FACEPAL, Palmas, PR; Graduado em Teologia e Pastoral, Itepa Faculdades, Passo Fundo, RS
Imagem: Divulgação/https://www.synod.va/it/cose-il-sinodo-21-23/il-logo-ufficiale.html
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