Neste período que estamos atravessando da pandemia do Covid-19, somos provocados ao exercício do cuidado fraterno para o bem de toda a família humana. O Papa Francisco diante deste contexto, nos convida à necessidade urgente da construção de uma fraternidade universal e de um pacto de amizade social. No primeiro capítulo da sua Carta Encíclica Fratelli Tutti, somos conduzidos a observar algumas tendências do mundo atual que emergem, que, por sua vez, inviabilizam o diálogo, a fraternidade e a busca pela verdade e a paz.
Ao iniciar o seu olhar para os atuais desafios globais, Papa Francisco alerta: “Mas a história da sinais de regressão. Reacende-se conflitos anacrônicos que se consideravam superados, ressurgem nacionalismos fechados, exacerbados, ressentidos e agressivos” (n˚11). Suas palavras buscam abrir nossos olhos e firmar nossos pés para o discernimento das atuais dicotomias da sociedade humana. Com isso, provoca e desperta nossa consciência para a reflexão dos caminhos que estamos tomando e das suas inevitáveis consequências.
Marcados pelo ritmo frenético da globalização econômica, nos deparamos com uma cultura cada vez mais indiferente às relações humanas. O atual jogo de poder – sobremaneira político, econômico e social – está impedindo de encontrarmos caminhos comuns para superarmos de forma concreta às injustiças e às variadas formas de degradação do planeta Terra. Os atuais discursos nacionalistas mascaram idealismos egoístas, manipulado e despertando cada vez mais discursos de ódio e a deterioração da consciência ética. “Os conflitos locais e o desinteresse pelo bem comum são instrumentalizados pela economia global para impor um modelo cultural único. Essa cultura unifica o mundo, mas divide as pessoas e as nações, porque ‘a sociedade cada vez mais globalizada torna-nos vizinhos, mas não nos faz irmãos’ (CV, n.19). Encontramo-nos mais sozinhos do que nunca neste mundo massificado, que privilegia os interesses individuais e fragiliza a dimensão comunitária da existência” (n°12).
Pode-se dizer que estamos diante um contexto donde emergem novas formas de colonização cultural que conduz à perda da consciência histórica, principalmente dos jovens, semeando uma ilusão, uma falsa utopia e a alienação. “A melhor maneira de dominar e avançar sem entraves é semear o desânimo e despertar uma desconfiança constante, mesmo disfarçada por trás da defesa de alguns valores” (n°15). O resultado da instabilidade desse tempo e da manipulação das informações é o crescente sentimento de angústia e de medo, que se traduzem nas várias formas de preconceito e de violência. “Essas situações de violência vão se ‘multiplicando cruelmente em muitas regiões do mundo, a ponto de assumir os contornos daquela que se poderia chamar uma ‘terceira guerra mundial em pedaços’ (FRANCISCO. Mensagem para 49˚ Dia Mundial da Paz de 2016” (n°25).
A leitura do Papa Francisco se estende como uma visão global dos atuais acontecimentos históricos, mas que se refletem de forma localizada nas mais diversas regiões do mundo. É um convite ao diálogo e a busca constante de superarmos o risco de sucumbirmos novamente aos mesmos erros do passado. O primeiro capítulo desta Carta Encíclica nos provoca a sairmos de nossa zona de conforto e a superarmos o olhar de indiferença para os discursos e os projetos que proferem o ódio e a violência. A busca pelo diálogo fraterno é necessária tanto para os contextos locais, mas, essencialmente, para uma perspectiva global: “Precisamos fazer crescer a consciência de que, hoje, ou nos salvamos todos ou não se salva ninguém” (n˚137). Este é o desafio: encontrarmos caminhos de corresponsabilidade e de esperança num mundo cada vez mais globalizado.
Pe. Tiago André Guimarães
Pe. Tiago André Guimarães é pároco da Paróquia Sagrado Coração de Jesus, na cidade de Passo Fundo, <a href=”https://www.arquidiocesedepassofundo.com.br/” target=”_blank” rel=”noreferrer noopener”>Arquidiocese de Passo Fundo.</a>
Imagem por Yael Portabales, disponível em cathopic.com
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