Nosso querido e sempre admirável Papa Francisco escreveu uma carta encíclica sobre a fraternidade e a amizade social intitulada “FRATELLI TUTTI”. Na língua italiana significa “todos irmãos”, uma palavra que ouvimos com o maior prazer: somos todos filhos e filhas do Pai, irmãos no cuidado da vida, no cuidado do planeta terra, bem como na vivência da fé, e no compromisso do Evangelho. Irmãos e irmãs na sagrada missão de construir do Reino de Deus.
No capítulo IV da encíclica, o Papa aborda a necessidade de abrir-nos ao outro e sobretudo, abrir-nos ao migrante. Ninguém deve fechar-se em si mesmo ou fechar qualquer tipo de fronteira, pois dependemos uns dos outros: “ou nos salvamos todos ou não se salva ninguém”, afirma Francisco. Além do mais, o mundo foi criado para todos. Era assim que Jesus falava: “O sol e a chuva são para todos” (Mt 5,45).
Todos migrantes
Na verdade, todos nós somos devedores ao país que acolheu nossos antepassados vindos da Itália, da Alemanha, da Polônia, da África, ou de outros países. Somos filhos, netos ou bisnetos de migrantes. Bem acolhidos, os migrantes construíram história.
Nossos antepassados foram empurrados para a migração por motivos diversos, especialmente pela injustiça e pela fome. Na verdade, expulsos da pátria… Todos carregavam na alma e no coração grandes sonhos: encontrar um espaço para viver com dignidade e liberdade. Entre as muitas correntes migratórias, os antigos escravos do Egito, nossos antepassados, conhecidos com o nome de israelitas, sonhavam com uma “terra onde corresse leite e mel” (Ex 3,8). Leite era símbolo de alimentação e mel, símbolo de liberdade. Mais tarde, na mesma direção, o profeta Isaías anunciava “novos céus e nova terra” (Is 65,17-25). Jesus, por sua vez, falava do mesmo jeito: 92 vezes falou em “Reino de Deus”, nos dizem os Evangelhos. Era tudo o que o povo de Jesus queria ouvir. E é assim que nós também queremos. O Reino prometido para a eternidade é graça do Pai. O Reino de Deus aqui da terra, deve ser construído pela busca da verdade, pela prática da justiça e pela vivência da solidariedade. Então, depende de Deus e depende de nós… Só assim dá certo.
Os migrantes daqui e dali
Na região de nossas dioceses e comunidades, encontramos homens, mulheres e crianças diferentes de nós: pela cor da sua pele, pela língua, pelos costumes e até pela religião que professam: senegaleses, haitianos, venezuelanos e outros. No contato com eles, percebemos serem pessoas iguais a nós, gente boa, corretos e trabalhadores. Nos seus rostos, na fala e nos seus sentimentos, de maneira misturada, manifestam a dor da migração, a saudade dos familiares e a esperança do “pão do teto e do trabalho”, como sempre fala Francisco. Desejamos firmemente que todos encontrem o espaço que procuram para viver com dignidade. De nossa parte uma palavra, um gesto, e o testemunho de vida, farão muita diferença!
O que o papa propõe
O Papa propõe uma coisa simples: abertura do coração às pessoas e à cultura dos migrantes: acolher, proteger, promover, e integrar. Como vemos, nada de muito complicado. Para isto é preciso “recuperar a boa vizinhança e a solidariedade”, recomenda Francisco. Os migrantes, são sempre uma bênção e um dom. Eles veem para somar e com eles podemos aprender e nos enriquecer com belíssimas lições do Evangelho. Sobretudo, nos unir para construir uma sociedade democrática, justa, solidária e ecumênica. Não deveremos, porém, esquecer um alerta: isto só será possível “se a alma não for pequena”, como adverte o poeta Fernando Pessoa.
Pe. Nelson Tonello
Padre Nelson Isidoro Tonello é especialista em Ciências Bíblicas pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora Assunção, SP; Licenciado em Filosofia, UPF, Passo Fundo, RS; Licenciado em Pedagogia e Especialização em Filosofia, FAFIMC, Viamão, RS; Bacharel em Teologia, Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, SP. E-mail: nelsontonello@yahoo.com.br
Imagem por Enrique Duprat, disponível em cathopic.com
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