Família: santuário da vida

Diácono Nelson Francisco Benvenutti

Estamos no mês de agosto, mês dedicado às vocações. Todos temos uma vocação e uma missão a cumprir ao longo da vida. Cada semana deste mês a Igreja vai refletir e orar por uma delas. Na segunda semana somos convidados a pensar sobre a família.

É conhecida a expressão que Rui Barbosa usava para definir a família: “é a célula mater da sociedade”. Ele entendia que assim como a célula é importante para o organismo, a família é importante para a sociedade. Como o corpo depende da célula, a sociedade depende da família.

Esta instituição é universal. Todos os povos, em todos os tempos, a consideram de suma importância. Interessante notar que ela vem precedida da cerimônia do casamento, tão preparada, festejada e valorizada que, por vezes, se constitui no grande acontecimento social de uma comunidade ou de uma nação. Até hoje, por diferentes rituais vinculados às diferentes culturas, o casamento é valorizado com festas solenes, com convidados especiais e publicamente anunciado.

Com o passar dos anos, a família vem se ressignificando, mudando valores e se configurando em novas modalidades. O importante é que ela cumpra sua finalidade. No caso da família cristã, ela se espelha na Família de Nazaré, modelo de vida e de inspiração.

Quando os esposos assumem o compromisso de viverem o sacramento do matrimônio, também aceitam os filhos que Deus lhes concede. Esta primeira comunidade natural, célula vital da sociedade, é o lugar sagrado da vida, a quem é atribuída a tarefa educativa dos filhos. O bem-estar da pessoa e da sociedade está ligado à valorização da comunidade conjugal e familiar. É ali que a vida humana surge, é cultivada e formada. É no seio familiar que se aprende a ser humano, aprende-se o amor, a solidariedade, o diálogo, o respeito de uns pelos outros, a vida comum, o valor do trabalho honesto, o valor da verdade, da piedade, da paz, o valor da oração, da espiritualidade e do perdão. É na família que a criança aprende a se alimentar, a dar seus primeiros passos, a sorrir, a perceber que há momentos que precisa obedecer, que há uma hierarquia e, portanto, funções diferentes. É na família que a criança aprende a ter boas maneiras, a repartir, a introjetar valores éticos e morais.

Essas vivências são fundamentais para a criança. É o período em que se inicia a formação do caráter e da personalidade do indivíduo, cujo comportamento repercutirá em sua vida e na vida da sociedade. A personalidade se estrutura nos primeiros anos de vida e resulta da interação entre as capacidades com as quais a criança nasce e o meio em que vive. A interação entre ambas forma a personalidade. Desses dois elementos, característica hereditária e meio, o que se pode mudar é o meio.

Para entender a importância do meio na formação do indivíduo, a parábola do semeador, relatada nos Evangelhos, ajuda a compreender esta questão. A semente caiu em vários terrenos e teve resultados diferentes. Os frutos produzidos não dependeram da semente, mas sim do ambiente em que caiu. Isto mostra a importância do ambiente familiar na educação dos filhos. Seus comportamentos são o reflexo das atitudes dos pais, de seus exemplos de vida e do diálogo respeitoso e educativo.

Dentro da perspectiva cristã, a família se constitui em igreja doméstica, pois é uma comunidade que participa da comunhão eclesial da fé, da esperança e da caridade e reflete, na comunhão das pessoas, a imagem da Santíssima Trindade. O futuro da sociedade e da Igreja passam inexoravelmente por ela. Por ocasião da segunda visita do papa São João Paulo II ao Brasil, afirmou em sua homilia: “sem uma família respeitada e estável, não pode haver organismo social sadio e nem uma verdadeira comunidade eclesial”. Sua missão é guardar, revelar e comunicar ao mundo o amor e a vida. É ali que os filhos e os pais devem ser felizes. Quem não experimentou o amor no seio do lar, terá dificuldade para conhecê-lo fora dele. Os psicólogos mostram quantos problemas surgem com as pessoas que não experimentaram o amor do pai, da mãe ou dos irmãos.

O Padre José Carlos Pereira diz: “não perca de vista os valores essenciais na educação de seus filhos: amor, respeito, limites, educação e ética”. E segue parafraseando Mário Sérgio Cortella, “a sociedade que vamos deixar para nossos filhos depende dos filhos que vamos deixar para a sociedade”. O que os filhos aprendem no lar levam para o resto de suas vidas.

Não existe família perfeita, nem casais perfeitos ou filhos perfeitos, pois as pessoas são limitadas. Há momentos de alegria, de realizações e há também momentos de dor, choro e sofrimento. Saber superá-los é tarefa que está ao alcance da pessoa que ama. O amor tudo pode quando alicerçado na confiança em si e em Deus, como diz São Paulo em Filipenses 4,13: “tudo posso naquele que me conforta”. Assim, as famílias, alimentadas pela força do amor e pela graça de Deus, lutam e fazem sacrifícios para superar as dificuldades que se apresentam em seus lares.

O Papa Francisco dá a receita para o sucesso da família: “o matrimônio é algo tão lindo, tão formoso, que temos que cuidá-lo porque é para sempre e as três palavras para isso são: com licença, obrigado e perdão. Recordem estas três palavras. Sempre há na vida matrimonial problemas ou discussões. Dou-lhes um conselho, nunca terminem o dia sem fazer as pazes. E como fazer? Basta um gesto pois, quando há amor, um gesto ajeita tudo”.

Padre Zezinho, em sua Oração pela Família, nos leva a reflexões profundas quando diz:

Que nenhuma família comece em qualquer de repente
Que nenhuma família termine por falta de amor
Que o casal seja um para o outro de corpo e de mente
E que nada no mundo separe um casal sonhador
Que nenhuma família se abrigue debaixo da ponte
Que ninguém interfira no lar e na vida dos dois
Que ninguém os obrigue a viver sem nenhum horizonte
Que eles vivam do ontem, no hoje em função de um depois
Que a família comece e termine sabendo onde vai
E que o homem carregue nos ombros a graça de um pai
Que a mulher seja um céu de ternura, aconchego e calor
E que os filhos conheçam a força que brota do amor
Que marido e mulher tenham força de amar sem medida
Que ninguém vá dormir sem pedir ou sem dar seu perdão
Que as crianças aprendam no colo o sentido da vida
Que a família celebre a partilha do abraço e do pão

Seja a Sagrada Família o modelo para a vivência matrimonial e para a educação dos seus filhos, abençoe as famílias e que elas continuem sendo santuário da vida, da esperança e do amor num mundo com tantos atentados à família cristã.

Nelson Francisco Benvenutti

Diácono Nelson Francisco Benvenutti foi professor de ensino médio e superior, Diretor de colégio José Fernandes de Oliveira, da faculdade de Letras e Educação de Vacaria, e do Campus Universitário de Vacaria. Foi sócio-fundador e presidente do Corede – Conselho Regional de Desenvolvimento do Nordeste. Diácono Nelson é casado com Nara Maria Faoro Benvenutti, pai de Rodrigo, Patrícia e Maurício Benvenutti, avô de Luiza e Antonella. Em 2020 foi ordenado diácono, atuando na Paróquia Nossa Senhora da Oliveira, em Vacaria.

Imagem: By Jl FilpoC – Own work, CC BY-SA 4.0, link


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