Eu digo Sim ao chamado de Deus, e você?

Pe. Pablo Cechinato de Lima e Marlon de Aguiar

Nós cristãos católicos temos como referência o mês de agosto como o mês vocacional. Nele intensificamos o convite para rezar e refletir acerca da vocação. Este mês é organizado para valorizar a diversidade de vocações existentes numa saudável vida eclesial.

No primeiro domingo, o convite é para que se reflita a vocação ao ministério ordenado, comemorando assim os muitos ‘sim’ ditos aos graus de ministérios ordenados: bispos, padres e diáconos. No segundo domingo, Dia dos Pais, lembramos o ‘sim à vocação matrimonial, comemorando a Semana da Família. No terceiro domingo, recordamos a vida consagrada, o ‘sim dos religiosos e religiosas, dos consagrados e consagradas que dedicam a sua vida a serviço da Igreja. No quarto e, se houver, quinto domingo, manifestamos nossa gratidão ao ‘sim das vocações leigas: catequistas, ministros, liturgistas, cantores e lideranças que se dedicam a servir a Igreja conciliando trabalho, testemunho e missão na vida pessoal, familiar e comunitária.

O convite que cada um de nós recebe é singular, irrepetível e intransferível. Deus vê nossas potencialidades, mesmo quando equivocadamente nos consideramos incapacitados de contribuir com algo, ou então quando nos tornamos arrogantes por nos considerarmos importantes demais para fazer tão pouco. Deus se revela ao ser humano e aspira que ele se revele, se liberte da arrogância ou qualquer outra amarra que afaste da missão convidada. Vocação é chamado de Deus ao serviço do povo. É sempre um chamado para libertar o povo de sua angústia e sua ganância que afasta-o da vocação confiada.

Todas as revelações de Deus aconteceram em vista de libertar o povo, destruir projetos maus e edificar projetos de vida. Há, portanto, um espaço entre a vocação e a escolha do vocacionado. O vocacionado pode escolher seguir sua vocação ou opor-se a ela. Já canta Pe. Zezinho, “são muitos os convidados, quase ninguém tem tempo”, e “diante de ti ponho a vida e ponho a morte, mas tens que saber escolher”. As canções expressam de forma poética as opções que a liberdade humana pode tomar. Entre assimilar e aceitar viver a vocação há ainda um processo de crise.

Na vocação, isto é, no chamado de Deus, o ser humano precisa viver seu processo de descobrimento da identidade, de reconhecimento da voz de Deus, para exercer a liberdade com discernimento e responsabilidade. É muito importante neste momento de discernimento a pessoa do Animador Vocacional, para auxiliar na construção do projeto de vida. Salientamos que isso é um direito de todos os cristãos e não exclusividade dos vocacionados à vida consagrada. Jovens, homens e mulheres, procurem vosso pároco, outro padre ou pessoa cristã de referência e busquem compreender a sua vocação e o sacramento que ela pode se tornar. No processo de configuração à vocação é natural haver resistência. Acontece que algumas vezes, os(as) vocacionados(as) não querem aceitar o chamado por se sentirem incapacitados, porém Deus surpreende, Ele eleva os menores, elege pela misericórdia e capacita os escolhidos. 

A vocação do ser humano nasce do coração de Deus e Ele elege os vocacionados a viver seu projeto a partir de suas realidades, circunstâncias, fraquezas e limites. Deus criou o ser humano, cuidando-o desde a gestação, guardando e protegendo. Para esse ser inspirou uma vocação, inspirou paixões, gostos, encantos que passam pelo crivo das dificuldades próprias da condição humana. Elegeu o ser humano para determinada missão, não porque não pode fazer, mas porquê espera de sua criatura, feita à imagem e semelhança, que ela seja co-criadora, co-cuidadora, cooperadora.

Para o ano de 2020, a proposta da Igreja do Brasil leva em consideração o seguinte tema: “Amados e chamados por Deus”. Assim lembramos que somos todos filhos de Deus, fomos gerados em seu amor e somos chamados a assumir a vocação, a qual Deus confia a cada ser humano. Neste sentido vem de encontro o lema: “És precioso a meus olhos…Eu te amo” (Cf Is 43,4), mostrando assim o amor de Deus pela humanidade. Deus ama a todos sem distinção, é um amor sem medida nem méritos, é a aposta da vocação, semelhante ao semeador que lança sementes. Assim, nos diz o Papa Francisco: “a santidade é uma meta que não pode ser alcançada apenas pelas próprias forças, mas é o fruto da graça de Deus e da nossa livre resposta a ela”[1].

Por fim, o mês vocacional nos convida a compreender que a oração pelas vocações, especialmente as dez Ave-Marias, propostas pela Ação Evangelizadora ‘Cada comunidade uma nova vocação’ não são direcionadas a terceiros, mas é graça para quem reza. Conscientes rezamos na intenção de “pedir que o Senhor da Messe, mande mais trabalhadores para a messe”(Mt 9,38). Recordamos que a oração deve ser vivida e praticada no berço familiar e comunitário. Urge celebrar a vocação. É nossa missão animar nossos jovens e, sempre que oportuno, perguntar: já pensou em ser Padre? Religioso? Freira? Catequista? Cantar na Igreja? Já noivaram? Sempre testemunhando a alegria de viver a vocação, pois “vocação acertada, vida feliz”.

Pe. Pablo Cechinato de Lima

Padre Pablo Cechinato de Lima, bacharel em Filosofia pelo Instituto de Filosofia Berthier (IFIBE), bacharel em Teologia pelo Instituto de Teologia e Ciências Humanas (Itepa Faculdades), pároco da <a href=”https://www.diocesevacaria.com.br/paroquias/nossa-senhora-de-lourdes-cacique-doble/”>Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, de Cacique Doble/RS</a> e referencial do <a href=”https://www.diocesevacaria.com.br/diocese/funcoes-e-servicos/pastoral-vocacional/”>Serviço de Animação Vocacional (SAV)</a> da Diocese de Vacaria.

Marlon de Aguiar

Marlon de Aguiar, seminarista da Diocese de Vacaria, bacharel em Filosofia pelo Instituto de Filosofia Berthier (IFIBE), bacharelando em Teologia pelo Instituto de Teologia e Ciências Humanas (Itepa Faculdades) e membro da equipe do <a href=”https://www.diocesevacaria.com.br/diocese/funcoes-e-servicos/pastoral-vocacional/”>Serviço de Animação Vocacional (SAV)</a> da Diocese de Vacaria.

  1. PAPA FRANCISCO, oração do Angelus.’ Disponível em: <https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2019-11/papa-francisco-angelus-solenidade-todos-santos.html>. Acesso em: 29 de jul de 2020.


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