Pedro Paulo Cara
Seminarista da Diocese de Vacaria, Bacharelando em Filosofia pela Universidade de Passo Fundo (UPF)
A Campanha da Fraternidade deste ano (CF 2020), nos convida a proclamar em todo o país que a vida, Dom e Compromisso, deve ser cuidada e valorizada desde o seu princípio até o seu término natural.
O agir de todo discípulo missionário, a exemplo do bom samaritano, tem por objetivo resgatar o sentido do viver no horizonte da fé cristã, proclamando a beleza da vida. Como possibilidade de escolha, o Texto Base da CF 2020 nos apresenta as duas bacias: a bacia utilizada por Pilatos, símbolo da indiferença e da omissão; e a bacia que Jesus utilizou no lava-pés, sinal do cuidado e do compromisso. Qual das duas bacias é mais condizente com a proposta evangelizadora desta Quaresma, que nos propôs como lema “viu, sentiu compaixão e cuidou dele”?
Como discípulos missionários, os membros da Igreja são convocados a se colocar em saída para servir àqueles que necessitam da sua ação generosa, envolvida pela ternura e amparada pela misericórdia. Neste cenário, onde toda vida é um intercâmbio de cuidados, os discípulos missionários assumem um papel essencial no compromisso com a vida em todos os seus âmbitos: compromisso pessoal, renovação familiar e comunidades eclesiais missionárias. Pois “fechar os olhos diante do próximo torna cegos também diante de Deus” (Deus Caritas Est, 16).
Compromisso pessoal – as mudanças só são reais se começarem em nós. Desta maneira estaremos influenciando positivamente o ambiente em que vivemos. Daí a importância de renovarmos o nosso compromisso de cuidado com a valorização vida.
Renovação familiar – enquanto Igreja, somos chamados a realizar um itinerário que contempla o cuidado da vida em todas as suas etapas; ser presença junto às famílias que enfrentam situações desafiadoras, tais como: na superação de conflitos familiares; quando da perda de sentido da vida; quando dos perigos oferecidos pelas redes sociais.
Comunidades eclesiais missionárias – diante do olhar individualista e indiferente do nosso tempo, o olhar samaritano se faz realidade nas famílias cristãs que se unem em pequenas comunidades missionárias, oásis de misericórdia. Inseridas num mundo onde ninguém tem tempo para ninguém, pequenas comunidades missionárias devem ser o lugar do afeto, da ternura e do abraço, do encontro fraterno em torno da Palavra e da Eucaristia.
Com isso, a parábola do Bom Samaritano (Lc 10,25-37) propõe que o olhar que Jesus nos ensinou é o olhar daquele que se compromete com o outro. Um olhar interessado, não em si mesmo, mas no próximo. Trata-se do olhar que reconhece a dignidade de cada pessoa e procura resgatar a imagem e a semelhança de Deus no rosto de cada homem e de cada mulher, sobretudo nos que se encontram em situações de exclusão e marginalidade.
Vemos que o consumismo desenfreado atropela a vida dos mais pobres sem escrúpulo, nem constrangimento algum. Com isso, cresce a indiferença com a situação dos mais frágeis e se desenvolve a cultura da invisibilidade e do descartável. A indiferença é um vírus que contagia perigosamente a nossa época, que cada vez mais aglomera pessoas em conjuntos habitacionais. Por essa razão, a CF 2020 deseja fomentar uma cultura do cuidado, da responsabilidade e da proximidade, estabelecendo uma aliança contra todo tipo de indiferença.
Referências Bibliográficas
BENTO XVI, Papa. Carta Encíclica Deus Caritas Est. Editrice Vaticana, 2005. Disponível em <http://www.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/encyclicals/documents/hf_ben-xvi_enc_20051225_deus-caritas-est.html>. Acesso em: 7 abr. 2020.
CNBB – CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Campanha da Fraternidade 2020: Texto-Base. Brasília: Edições CNBB, 2019.
Imagem por Erasmus Engert – https://digital.belvedere.at/objects/7019/der-barmherzige-samariter, Public Domain, Link
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