Marlon de Aguiar
Seminarista da Diocese de Vacaria/RS; Bacharel em Filosofia pelo Instituto Superior de Filosofia Berthier (IFIBE) e Bacharelando em Teologia pelo Instituto de Teologia e Pastoral (Itepa Faculdades).
Neste ano a Campanha da Fraternidade (CF 2020) convida-nos a olhar com amor e cuidado para os nossos irmãos. Baseando-se na Parábola do Bom Samaritano (Lc 10,25-37), nos mostra que é preciso ver, sentir compaixão e cuidar do próximo. Este movimento nos insere na vida do irmão, pois somos convidados, a exemplo do Samaritano, a olhar para o próximo e dialogar com ele, a fazer das tristezas e alegrias dele, as nossas. Mas, como bem nos apresenta o Texto-Base, vivemos em uma sociedade onde a indiferença para com o outro está cada vez mais presente.
O Papa Francisco caracteriza essa postura individualista como sendo a “globalização da indiferença”. Motivados pelo Papa e pela Campanha da Fraternidade deste ano, somos convidados a vencer esta indiferença e, um dos caminhos para isso, é recuperar o diálogo. Frente a isso, temos o bom exemplo de Santa Dulce dos pobres. Ela nos mostrou que, quando dialogamos, nos importamos com o outro, sentimos compaixão e cuidamos, pois o diálogo é cuidado e compromisso para com a vida do irmão.
Ao longo do Texto-Base, aparecem diversas reflexões que apontam para a importância do diálogo: é preciso compreender o diálogo não como uma simples conversação, onde trata-se superficialmente de assuntos e temas sem comprometimento pessoal, mas sim como uma autêntica relação interpessoal, onde há manifestação e abertura recíproca.
Buscando entender este assunto, encontrei uma definição que certamente nos ajudará a compreender melhor. O livro Diálogo: movimento por um mundo melhor, de Rovílio Costa, nos apresenta que a estrutura da pessoa é dialogal: “ela não é para si. É essencialmente tendência ao outro; tendência para o outro, como centro subjetivo que vive sua própria realidade. Nasce, assim, a relação interpessoal eu-tu que cria o nós, a comunhão” (1981, p. 11). É através disso que compreendemos a motivação da Campanha. Esta nos diz que a vida é dom e compromisso fraterno, comunhão com os irmãos. “A vida como dom nos conduz a um compromisso. Despertamos para a responsabilidade de nossa existência e de todas as criaturas. Compromisso como promessa de permanecer junto de, comprometer-se com” (Texto-Base, nº 25, grifo do autor).
O diálogo como sendo relação interpessoal nos aponta ao outro, nos liga com o outro. Para que aconteça o verdadeiro diálogo é preciso amar o outro, uma atitude que caracterizo como sendo de doação. O Samaritano doou-se ao caído, mostrando que também precisamos nos doar aos irmãos. Ele doou seu tempo, fazendo-se próximo, dialogando com o homem caído à beira do caminho. Esta deve ser nossa atitude. Quando amamos nosso irmão, buscamos dialogar com ele. Dialogar como uma forma de doar-se ao outro, pois, através do diálogo, dou ao outro parte de mim. É uma “doação generosa de quanto sou e possuo. Doação espontânea e gratuita. É o móvel da entrega. A iniciativa para o encontro” (COSTA, 1981, p. 43). É preciso que as pessoas busquem se encontrar para dialogar e partilhar a vida.
O mundo, como nos apontou o Papa Francisco, vive uma forte “globalização da indiferença”, e isso não é nada bom. É preciso superar, quebrar as barreiras que impedem as pessoas de se encontrarem para dialogar. É um ato de amor ir ao encontro do outro, porque visa-se o bem do mesmo. É correr o risco de não ser compreendido, mas mesmo assim ir ao encontro. O diálogo é fruto do amor e, como nos aponta o Texto-Base, “de fato, quem ama não julga, não acusa, não divide! Quem ama, cuida, acolhe, integra. Quem ama dialoga, suporta, se compadece” (nº 94).
Somos chamados a ser uma Igreja samaritana, a exemplo disso, sermos samaritanos. É preciso se preocupar e buscar o tempo todo fazer o bem. É a mensagem que encontramos também na Carta aos Gálatas: “enquanto temos tempo, façamos o bem a todos” (Gl 6,10). Para isso é imprescindível o encontro, a aproximação, a escuta, o diálogo, a cura das feridas. A exemplo de Santa Dulce dos pobres, que foi presença do amor de Deus, pois via, dialogava, se compadecia e cuidava dos pobres e sofredores.
A aposta no diálogo entre irmãos é um dos caminhos para a superação da indiferença. Como bons cristãos, somos convidados a promover a cultura do encontro. É no encontro com o outro que muitas vezes fazemos a verdadeira experiência do amor e da misericórdia, através do diálogo e da escuta. É uma questão de compromisso e cuidado para com a vida do irmão.
Referências Bibliográficas
A BÍBLIA de Jerusalém. São Paulo: Paulinas, 2002.
CNBB – CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Campanha da Fraternidade 2020: Texto-Base. Brasília, Edições CNBB, 2019.
DIÁLOGO: Movimento por um mundo melhor. Trad. COSTA, Rovílio, COSTELLA, Irineu. Porto Alegre, EST, 2. ed. 1981.
Imagem por Vincent van Gogh – The Yorck Project (2002) 10.000 Meisterwerke der Malerei (DVD-ROM), distributed by DIRECTMEDIA Publishing GmbH. ISBN: 3936122202., Public Domain, Link
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