A Itepa faculdades promoveu, na última segunda-feira, 27 de julho de 2020, a abertura das atividades para o segundo semestre deste ano. A abertura se deu com uma reflexão sobre o pós-pandemia, que ficou a cargo dos bispos das dioceses que integram a mantenedora da instituição.
O evento, coordenado pela professora Selina Maria Dalmoro, da Itepa faculdades, e pelo padre Elisandro Guindani, da Diocese de Vacaria, juntamente com os acadêmicos do terceiro ano do curso de Bacharelado em Teologia, contou com a participação de mais de 50 pessoas e foi realizado de forma online pelo aplicativo Google Meet. Participaram os bispos Dom Rodolfo Luís Weber de Passo Fundo/RS, Dom Sílvio Guterres Dutra de Vacaria/RS, Dom Adimir Antonio Mazali de Erexim/RS, Dom Antonio Carlos Rossi Keller de Frederico Westphalen/RS e Dom Odelir José Magri de Chapecó/SC. Além dos bispos, também participaram padres, religiosos e religiosas, seminaristas, leigos e leigas, de modo especial acadêmicos da Itepa faculdades.
As reflexões dos bispos iniciaram com Dom Rodolfo Luís Weber, que tratou a respeito das perspectivas eclesiais. Com base na expressão “pés no presente”, dom Rodolfo lembrou que a pandemia ainda não passou e que a Igreja católica, desde o início, seguiu rigorosamente as determinações sanitárias. Contudo, destacou que a Covid-19 não pode esconder outros problemas existentes na sociedade e que a missão da Igreja é essencial e os fiéis precisam da atenção dos pastores. Segundo Dom Rodolfo, a Igreja precisa ter uma palavra profética nesse sentido, sendo um tempo propício para olhar com serenidade a situação que se vive. O Arcebispo de Passo Fundo ponderou que, no seu ponto de vista, no pós-pandemia talvez se tenham algumas mudanças no aspecto funcional, mas a nível de mudanças de valores, comportamentos sociais, modos de viver a fé, essas talvez não sejam tão sensíveis.
O Bispo de Vacaria, Dom Sílvio Guterres Dutra, abordou as perspectivas políticas e o compromisso cidadão. Com base na Constituição Pastoral Gaudium et Spes (GS), nas reflexões do Papa Francisco e nas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja do Brasil, 2020-2023, Dom Silvio organizou sua fala a partir de três pontos: a urgência de resgatar o amor pela política, a urgência de formação e algumas tarefas inadiáveis. Sobre o amor pela política, Dom Silvio lembrou que esse tema muitas vezes parece ser estranho à missão e tarefa da Igreja. Dom Silvio aponta que do Papa Francisco vem uma palavra de apoio aos políticos, lembrando que a política não pode ficar apenas na discussão, mas tem uma missão importante. Outro aspecto que Dom Silvio apontou é que a área da política precisa de formação, como nos lembra a GS. O justiça, benevolência e serviço ao bem comum devem permear todas as ações. O Concílio Vaticano II tinha em mente a importância de investir nos jovens, com o desafio de encantar para a política uma geração que vem sendo treinada para o mercado. Ainda o Bispo de Vacaria destacou que existe uma tentativa de empurrar a religião para as coisas privadas, mas é preciso que política e religião, embora autônomas, têm muitas coisas a dialogar.
Por fim, Dom Silvio apontou oito tarefas que considera como inadiáveis: viver o evangelho da fraternidade e da justiça; viver a caridade em vista do Reino como processo de geração de estruturas estáveis de relação humana; reconstruir o diálogo que pressupõe a necessidade de pensamentos diferentes; pensar a economia segundo sua legitima natureza; descontaminar o voto atingido pelas fake news; investir na cultura da vida; atenção a migrantes e refugiados; atenção aos indígenas, quilombolas e pescadores.
A reflexão dos bispos seguiu com Dom Adimir Antonio Mazali, Bispo de Erexim, que tratou sobre as perspectivas para formação. Sua fala contemplou dois aspectos da formação: a sacerdotal e a dos leigos envolvidos nas comunidades. Conforme apontado por Dom Adimir, no tempo de pandemia, ficam algumas lacunas na formação dos futuros padres. Doutro modo, a pandemia motiva todos a reconhecer que podemos sair melhor dela. Brotam, assim, algumas luzes. Primeiro a experiência de maturidade que a pandemia está pedindo, tanto dos padres e bispos, quanto dos seminaristas. Os formandos precisam, junto às suas famílias, se empenhar para desenvolver uma maturidade humana e espiritual. Dentro disso, o contato com a família também se torna muito importante. Outra questão é o contato com o mundo virtual, que tem seu lado positivo, mas o formando não pode se perder nesse mundo. Por fim, outra luz é a da redescoberta da vida espiritual, a importância da proximidade com Deus.
O segundo aspecto de que Dom Adimir fala é o da formação dos leigos: o distanciamento deixou uma preocupação sobre a consciência do senso de comunidade. Ficam, nesse sentido, algumas perguntas: “como preencher as lacunas que a formação à distância tem deixado para trás? Como fazer sair do mundo intelectual para o coração? Como ser resposta às urgências?”. Diz o Bispo de Erexim que são perspectivas que não se fecham como um projeto a ser executado, mas como uma reflexão a ser aprofundada. Como Igreja, nos diversos ministérios, o objetivo é formar para ser sinal de esperança, formar para a transformação social, cada um sendo luz na sua realidade.
A quarta fala foi de Dom Antonio Carlos Rossi Keller, Bispo de Frederico Westphalen, que tratou sobre a animação vocacional. Dom Antonio tratou da necessidade de cada cristão viver sua vocação batismal, o chamado à santidade. Dentro do contexto vocacional, Dom Antonio destaca o aspecto da pastoral vocacional pós-pandemia, que é a tomada de consciência do chamado à perfeição da vida do cristão. A santidade se faz no cotidiano, no exercício da vida cristã. Dom Antonio citou o Papa Francisco, em um discurso para o encontro internacional da Pastoral Vocacional, em 2016, em que expressou uma preocupação de que algumas expressões fazem as pessoas entender que a pastoral vocacional é uma pastoral a mais na Igreja. O bispo de Frederico Westphalen lembra que a Pastoral Vocacional é mais que isso. É um movimento interno, que tem relação com a graça, pois é um chamado: “é um chamado pessoal de amor que Nosso Senhor dirigiu a cada um. Por isso não se pode burocratizar a pastoral vocacional. Por isso o Papa diz que é preciso o cuidado que a Pastoral Vocacional não seja um departamento da Cúria, ou algo pior, a elaboração de um projeto”. Dom Antonio lembra que o projeto vocacional não é algo de papel, mas uma ação de ir ao encontro dos irmãos, como Igreja, em nome Daquele que chama. O mais importante na Pastoral Vocacional é que ela seja um ponto de encontro com o Senhor. Seguindo o Papa, Dom Antonio cita os três verbos que fazem parte da base ou da estrutura da Pastoral Vocacional: sair, ver e chamar.
Por fim, o último dos bispos a falar foi Dom Odelir José Magri, Bispo de Chapecó, que tratou do cuidado com os pobres. Dom Odelir organizou a fala em quatro momentos: o primeiro apresentando algumas premissas, o segundo sobre o que a pandemia revelou, o terceiro com as respostas às questões de emergência e, por fim, os desafios e perspectivas. Primeiro, Dom Odelir lembrou que a missão da Igreja é sempre a mesma: anunciar Jesus Cristo. Ela não muda na pandemia, mas recebe novo enfoque. A pandemia revelou que o planeta está doente. Vive-se, conforme Dom Odelir, algumas crises: ecológica, do sistema mundial, sanitária, política e espiritual. O chamado é para que todos possam dar de sua própria pobreza àqueles que precisam. Dom Odelir fez referência a algumas ações sociais emergenciais que a Igreja realizou neste tempo de pandemia: arrecadação de alimentos, cuidado com a região da Amazônia, enfim, dentre outras ações que muitas vezes passam despercebidas em nossas comunidades. Por fim, o Bispo de Chapecó apontou alguns aprendizados que são fruto desta pandemia: é preciso retomar e reforçar a proximidade com os mais pobres, com os invisíveis; gerar experiências de solidariedade; e a dimensão social do dízimo.
Assim a Itepa faculdades, que da Diocese de Vacaria tem como acadêmicos três seminaristas, iniciou o segundo semestre letivo deste ano. As aulas seguirão de forma online, respeitando os limites impostos pelo distanciamento social em função da pandemia do novo coronavírus. A manhã encerrou com os agradecimentos do novo diretor da instituição, Pe. Rogério Zanini, da Diocese de Chapecó/SC e bênção do Arcebispo de Passo Fundo, Dom Rodolfo.
Texto: Renan Paloschi Zanandréa/PASCOM Diocese de Vacaria
Fotos: Reprodução/Google Meet