A realidade da família sempre foi algo muito caro, desejado e reconhecido pela Igreja como espaço adequado para a educação para valores e a formação integral do ser humano no espírito do Evangelho do amor e na dinâmica da vida comunitária. A Exortação Apostólica do Papa Francisco, Amoris Laetitia, abre com a expressão “A alegria do amor que se vive nas famílias é também o júbilo da Igreja” (n. 1).
As transformações que envolvem esse tema são enormes, o amor vivido em família, contudo, não deixou de ter importância, como caminho seguro e espaço valioso para buscar o sentido da vida e cultivar o espírito fraterno. É preciso ter consciência, assim revela o espírito do documento, da necessidade de exaltar os sinais de alegria e considerar a realidade familiar como sagrada, sem desconsiderar as crises e fragilidades.
A família também pode ser definida como uma junção de pessoas razoavelmente conhecidas e que iniciaram por algum laço de afeto/intimidade inicial. A continuidade e descontinuidade e/ou a ruptura para dar início a outros relacionamentos “eternos enquanto duram” são realidades razoavelmente comuns. É importante considerar que as circunstâncias e as escolhas estabelecem algum tipo de laço mais ou menos duradouros formam as famílias na atualidade. As relações homoafetivas não podem ser ignoradas. A orientação moral não é impedimento para o caminho do Evangelho, aberto a todos independente da “condição”.
A família pode ser um agrupamento fechado para o mundo externo e de proteção para não sofrer ameaças de toda ordem, o que convenhamos, no contexto atual de inúmeras ameaças e perigos, não é pouco. Pode ser garantia de saúde física e, em grande medida psíquica, e ainda preparar para algum emprego rentável no futuro. Reduzida a essa realidade pode produzir fechamento e falsa segurança, pois o caminho do seguimento exige abertura ao outro. A própria noção de fecundidade alargada se estende até a predisposição para o que se pode chamar de solidariedade social (AL, 181).
Entre os desafios atuais está a capacidade de acessar a subjetividade das pessoas e comunicar algo que faça sentido e que seja capaz de mobilizar a energia individual para atingir o núcleo familiar. Sem atingir a subjetividade não somos capazes de mobilizar para atitudes e ações na perspectiva da solidariedade e da fraternidade.
Acerca das diferentes fisionomias que compõem a realidade familiar a Exortação insiste que precisamos, enquanto pessoas de fé, agentes de pastoral ou pessoas abertas ao Espírito do Evangelho, que precisamos acolher, integrar, acompanhar e ajudar nos processos de discernimento.
São muitas realidades que precisam da nossa solidariedade. O tempo para escuta, para a visita, ou o engajamento para a conquista de melhores condições de trabalho, saúde educação. Precisamos estabelecer pontes, fortalecer os elos e potencializar pontos de contato para que nossas atitudes e ações se encontram na necessidade do outro. É preciso tocar a subjetividade dos indivíduos para que as famílias não se fechem em si mesmas!
Questões para reflexão:
1) O que dizer sobre a realidade das relações familiares na atualidade?
2) Como atingir a subjetividade pessoal e chegar ao núcleo familiar?
3) Quais os desafios às famílias para viver o espírito cristão?
Autor
Neri Mezadri
Professor na Itepa Faculdades. Doutor em Educação pela Universidade de Passo Fundo – UPF.
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