Pe. Ivanir Antonio Rampom

Para ser uma Igreja ao estilo de Deus, não se pode esquecer os pobres. Porém, não basta lembrá-los, mas “dar-lhes” uma atenção preferencial em todo o processo sinodal, escutando os seus clamores e encontrando as “sementes da esperança”.

Ser Igreja ao estilo de Deus

No momento de reflexão para o início do percurso sinodal (9/10/2021), o Papa Francisco disse que o estilo de Deus é proximidade, compaixão e ternura. Deus sempre agiu assim! Os Evangelhos nos mostram Jesus Cristo semeando as palavras e sinais do Reino de Deus, dando atenção especial aos pobres, através de sua proximidade, compaixão e ternura (DP 17). E, por isso, “se não chegarmos a esta Igreja da proximidade com atitudes de compaixão e ternura não seremos a Igreja do Senhor”. Deste modo, não podemos ser uma Igreja alheia à vida, mas que cuida das fragilidades e pobrezas do nosso tempo, curando as feridas e sarando os corações com o bálsamo de Deus.

Ser Igreja que escuta o clamor dos pobres e da Terra

A pandemia da covid-19 “despertou, por algum tempo, a consciência de sermos comunidade mundial que viaja no mesmo barco, onde o mal de um prejudica a todos. Recordamo-nos que ninguém se salva sozinho, que só é possível salvar-nos juntos” (FT 32). Ao mesmo tempo, “a pandemia fez eclodir as desigualdades e as disparidade existentes: a humanidade parece estar cada vez mais abalada por processos de massificação e fragmentação” (DP 5).

A massificação e a fragmentação fazem com que nos tornemos incoerentes: num momento discorremos sobre o cuidado com a vida, mas logo depois defendemos projetos de morte; falamos de amor e, em seguida, não controlamos os impulsos de ódio que se proliferam; falamos de misericórdia, mas não fazemos a opção pelos pobres; queremos evitar as catástrofes ecológicas, mas não estamos dispostos a mudar estilos econômicos que são causas das catástrofes…

As Encíclicas Laudato Si´ e Fratelli Tutti documentam a profundidade das fraturas que atravessam a humanidade, lembrando que precisamos escutar o clamor dos Pobres e o grito da natureza, a fim de reconhecer as sementes de esperança e futuro que o Espírito continua a germinar: Deus não nos abandona, não recua no seu projeto de amor, não se arrepende de nos ter criado e, nós, ainda possuímos capacidade de colaborar na construção da Casa Comum (FT 13).

Ser Igreja que escuta os apelos do Espírito Santo

As várias guerras – como a cruel guerra da Ucrânia – nos coloca diante da possibilidade de um conflito atômico. Estamos e somos todos vulneráveis e precisamos de mútuo cuidados. A pandemia e as guerras não são frutos do acaso, mas consequências de um paradigma tecnocrático que destrói a natureza e de uma mentalidade colonialista, machista, patriarcal, armamentista que desqualifica quem se opõem à idolatria do Mercado.

Podemos mudar de paradigma e de mentalidade! Necessitamos de mais resistência e profetismo para buscarmos a fraternidade universal e a amizade social. Não está o Espírito Santo se manifestando hoje, através do clamor das vítimas e da Terra? Não está pedindo nossa conversão e renovação? Não está nos indicando para a “vida nova”? Não está nos chamando ao projeto de santidade e felicidade proposto por Jesus nas Bem-Aventuranças? Estamos dispostos a buscarmos o Reino de Deus e a sua justiça? Por isso, no processo sinodal “será de importância fundamental que encontre espaço também a voz dos pobres e dos excluídos” (DP 31), pois neles está “a semente de esperança” para o futuro da humanidade e da nossa Casa Comum…

Através do Sínodo, a Igreja quer ouvir ainda mais o clamor dos Pobres e da Terra – e neles – o clamor do Espírito Santo que nos desafia a sermos uma Igreja ao estilo de Deus. Assim, a Igreja é chamada a renovar-se sob a ação do Espírito Santo pondo-se à Escuta da Palavra. A escolha de “caminhar juntos, escutando o grito dos Pobres e da Terra” constitui “um sinal profético para uma família humana que tem necessidade de um projeto comum, apto a perseguir o bem de todos” (DP 9).

De fato, este “processo sinodal tem uma profunda dimensão missionária”. Destina-se “a capacitar a Igreja para um melhor testemunho do Evangelho, especialmente com aqueles que vivem nas periferias espirituais, sociais, econômicas, políticas, geográficas e existenciais de nosso mundo. Deste modo, a sinodalidade é um caminho pelo qual a Igreja pode cumprir com maior fecundidade a sua missão evangelizadora no mundo, como fermento ao serviço da vinda do Reino de Deus” (VM 1.4).

Questões

– Como a Igreja dialoga com os pobres? Durante a primeira fase do Sínodo, em sua paróquia, pessoas que vivem nas periferias, deficientes, migrantes, idosos… foram escutadas?

– Conseguimos ouvir com o coração aberto e sem preconceitos?

– Nossas celebrações conseguem rezar os clamores dos Pobres e da Terra?

– Nossa vida/espiritualidade reflete o “estilo de Deus”?

Siglas: DP = Documento Preparatório; VD = Vademecum; FT = Fratelli Tutti.


Autores

Pe. Ivanir Antonio Rampom

Presbítero, Coordenador de Pastoral da Arquidiocese de Passo Fundo. Doutor em Teologia Espiritual (Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, 2011). Professor na Itepa Faculdades.

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As opiniões expressas no presente artigo, são de total responsabilidade de seus signatários, não expressando a posição oficial da Igreja Particular de Vacaria.

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