Pe. Ari Antonio dos Reis
Seminarista Renan P. Zanandréa

Por ocasião da Campanha da Fraternidade de 2022 o tema educação entra no debate eclesial e social. O lema sugerido “fala com sabedoria, ensina com amor” (cf. Pr 31,26) reitera a riqueza dos processos educativos nos quais o ser humano toma parte e que vão muito além do “aprender a fazer”. Segue-se o princípio que enquanto ação humana e divina, a educação é fundamental para a pessoa, para a sociedade e para uma civilização onde reinem a fraternidade e a amizade social.

Dialogando com a proposição da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) propõe-se a reflexão de quatro dimensões da educação. Elas devem ser provocadas na pessoa em vista do seu desenvolvimento. São citadas algumas que, contudo, não esgotam todo o seu potencial de transformação do ser humano.

Primeiramente compreendamos a educação como um ano de humanização, de fazer-se humano. O ser humano ao nascer vai guiando-se por instintos em nome da sua sobrevivência, respondendo ao propósito de satisfação das necessidades básicas para permanecer vivo. Cabe aos atores do meio onde está inserido educá-lo para que desenvolva e potencialize a sua dimensão humana, afetiva, racional e também suas aptidões. A humanização acontece através da convivência familiar e social. Exige de todos e é fundamental para a convivência com os semelhantes.

A educação também ocupa uma missão importante como mediadora das relações sociais. É um caminho de interação social necessário, porque abre para a pessoa os caminhos de convivência segundo normas de convivência social que não dependem meramente da vontade pessoal, mas que são consideradas válidas e necessárias para a harmonia e boa convivência social. A pessoa compreende-se como alguém agindo em uma coletividade que lhe é importante e a qual deve respeitar e valorizar. Desde tenra idade o ser humano é educado para viver em coletividade, considerando seus direitos e deveres e isto compreende um processo educativo.

Educar é também um processo formativo de grande valor, visto que ao longo da história de cada pessoa dedica-se bom tempo neste processo. Existem dimensões da formação fundantes no sentido de embasamento para outros processos como o aprender a ler e escrever; as noções de matemática; geografia; sinais de trânsito… permitem que a pessoa se situe e coloque-se em condições de assumir outros processos mais complexos em sua vida. A pessoa não pode estudar história se não sabe ler. Não pode cursar uma faculdade na área da tecnologia se não sabe as noções mínimas de matemática. A formação básica é necessária e permite o vislumbre de outros processos formativos. Todavia, tal formação exige, mesmo que seja na infância um grau de criticidade. É necessário, nos processos formativos, provocar o desenvolvimento do senso crítico da pessoa. O mestre da pedagogia Paulo Freire em suas obras e atividades fazia questão de lembrar que não bastava a formação técnica, mas também proporcionar a formação da consciência crítica que permite as condições mínimas para a pessoa compreender o seu papel no mundo. Certamente tal princípio é uma chamada de atenção em relação às tentativas de tecnificação da educação hodiernas. Uma pessoa é formada para também agir criticamente no mundo transformando esse mundo.

Cabe, por fim, ressaltar um caminho especial para os cristãos, a educação da fé. Compreende-se a fé como graça de Deus. Duas atitudes são importantes, a saber, o despertar da fé através da ação evangelizadora, no caso, respeitando a vida e a cultura da pessoa. A segunda consiste em alimentar a fé. Ela é dom gratuito. Uma vez despertada se desenvolve a partir da alimentação recebida pela prática cristã. Neste caso é necessário a formação na fé. Só o despertar não basta. Santo Agostinho fala em compreender as razões da fé. O que é dom carece de cuidado e amadurecimento. O Papa Francisco na oração do Ângelus em 11 de agosto de 2019 disse: Somos convidados, isto é, a viver uma fé autêntica e madura, capaz de iluminar as muitas “noites” da vida. “E sabemos, todos nós tivemos dias que eram verdadeiras noites espirituais”. “A lâmpada da fé precisa ser alimentada continuamente, com o encontro coração a coração com Jesus na oração e na escuta da sua Palavra”. É o processo de formação da fé, sempre necessário e ascendente, colocando a pessoa no âmago do mistério de Deus.

A Campanha da Fraternidade considera essas dimensões e apresenta para os cristãos e pessoas de boa vontade uma pergunta fundamental e necessária nesses temos: qual o papel da educação na promoção da fraternidade? A resposta está nos compromissos que a educação, viabilizada por diferentes protagonistas, vai assumindo: 1) a escuta sensível, que procura entender o cenário educacional e geral que estamos inseridos, o papel da educação, percebendo o que já foi vivido; 2) um discernimento sério, com olhar fixo em Jesus, como Mestre e Educador, procurando compreender os caminhos para uma educação integral, para a ampliação do papel da família, com olhar para a educação na fé, no diálogo, educando para o bom, o belo e o verdadeiro; 3) um agir concreto, provocando para um projeto de vida que promova a vida em sociedade, educando para um novo humanismo, comprometendo-se, de fato, com a educação.

O velho lema latino ainda fala alto: sapere aude, ou seja, ouse saber. Precisamos ousar saber, ousar aprender, ousar pensar, para, por meio da escuta atenta, do discernimento sério e do agir concreto, chegarmos a uma educação de qualidade e integral para todos.

O Papa Francisco, citado no Texto-Base da CF 2022 (n. 278-281) afirma: “precisamos trabalhar para um crescimento em três dimensões: em idade, ou seja, numa dimensão natural, promovendo o crescimento saudável a nível físico e psicológico, educando para o trabalho honesto; para a educação a nível de sabedoria, provocando para o respeito a Deus, a inserção na vida eclesial; por fim, na educação para a graça, abrindo-se à graça por meio da fé.”

*Texto elaborado originalmente para o blog da Rádio Planalto, de Passo Fundo.


Autores

Pe. Ari Antonio dos Reis

Mestre em Teologia Pastoral (Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção); professor na Itepa Faculdades nas áreas de Metodologia e Prática Pastoral, Ecumenismo e Diálogo Inter-Religioso e Revelação.

Renan Paloschi Zanandréa

Licenciado em Matemática e bacharel em Filosofia (Universidade de Passo Fundo – UPF); bacharelando em Teologia (Itepa faculdades). Seminarista do terceiro ano da etapa da Configuração, Diocese de Vacaria/RS.

Imagem Reprodução cartaz CF 2022. Arquivos disponíveis em https://campanhas.cnbb.org.br/pastas/cf2022
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