Seminarista Dalcinei Sacheti e Pe Ari Antonio dos Reis
As religiões podem contribuir profundamente para um mundo fraterno, em que a humanidade saiba dialogar e viver em paz. O diálogo fundamental num mundo globalizado faz as religiões assumirem uma função que precisa ir além da mera diplomacia em vista da não-agressão, que alcance a verdadeira fraternidade.
Não se trata de criar uma religião que incorpore os princípios de todas as religiões ou selecionar juntas os melhores dogmas de cada uma, mas de respeitar e ver “as sementes do Verbo” que existem nelas. Sabendo que o que a orienta é maior do que qualquer organização meramente humana.
No capítulo oitavo da Encíclica Fratelli Tutti o Papa Francisco reflete as religiões a serviço da fraternidade no mundo. Afirma que a presença de Deus na sociedade humana é um bem que não pode ser desconhecido ou negado. “Quando se pretende, em nome de uma ideologia, excluir Deus da sociedade, acaba-se adorando ídolos, e bem depressa o próprio homem se sente perdido, a sua dignidade é pisoteada, os seus direitos violados”. (FRANCISCO. Discurso no encontro Inter-religioso (Tirana, Albânia, 21 de setembro de 2014)
Ele aponta para a dimensão religiosa que constitui todos os seres humanos. E essa dimensão se fundamenta no fato de que o ser humano é um ser insatisfeito, o que mostra que o seu ser está além do que ele é no presente. A vida toda o que move as pessoas é ter projetos, sonhos, metas. Para os cristãos, a meta maior é a vida junto de Deus, a vida plena, não existe nada mais completo, mais bonito. Mas se as pessoas resolvem dizer que não precisam de Deus ou que Deus não existe, elas vão buscar esse ir além, esse tornar-se pleno em outras fontes. Hoje a sociedade cria muitos ideais que são imediatistas e frustram, são ídolos, como vampiros que sugam o sangue e não plenificam.
De uma forma ou de outra todas as religiões possuem um fundamento que fazem caminhar na direção da plenificação, um horizonte que dá um sentido mais profundo à vida do que possuir bens ou alcançar a glória pessoal. E justamente esse horizonte procura abarcar todos os seres humanos em uma ética de convivência pacífica e cooperação para o bem comum.
Em um documento que o Papa escreveu junto com o Imã de Abu-Dhabi eles dizem que o mundo hodierno tem entre as suas causas o desprezo pelos valores religiosos, deixando predominar valores individualistas e filosofias materialistas, imediatistas no lugar dos valores mais profundos que o fazem caminhar como peregrino nesse mundo, rumo a algo maior do que a sua humanidade.
Nessa tarefa é necessário contar com todas as forças dispostas a trabalhar por uma humanidade melhor e não rejeitar as outras religiões naquilo que há de santo e verdadeiro. O fundamento cristão é o Evangelho e não há como abrir mão dele. Do mesmo modo sabe-se que outras religiões possuem seus fundamentos. Cada religião deve buscar no mais profundo deles e com certeza encontra princípios que aproxima os seres humanos. É nesse sentido que o diálogo ganha consistência. Como católica significa universal, o que toca o ser humano interessa à Igreja. Assim, tudo o que aproxima os povos e os faz cuidar dos direitos e deveres do ser humano provoca para a sua participação.
A Fratelli Tutti apresenta a questão religiosa e as formas de terrorismo que muitas vezes aparecem pelo mundo. Afirma que há um caminho de paz. Ao olhar para Deus como único Pai, fica evidente o amor a todas as pessoas independente da crença ou se não professa fé alguma. Nesse sentido o Papa e o grande Imã Ahmad Al-Tayyeb assinaram um documento sobre a fraternidade em que acreditam que a violência com que alguns grupos religiosos agem não é legítimo:
Os líderes religiosos têm responsabilidade pela imprudência com que agem. Toda liderança religiosa deve buscar o diálogo e a mediação de conflitos, sempre em função da construção da paz, nunca de acordos parciais. Por fim apontam para o compromisso de contribuir para que cada pessoa se sinta irmão, principalmente em nome daqueles que perderam a paz, que estão exilados de suas casas ou países, dos sistemas de lucro desmedido e tendências ideológicas odiosas, em nome da liberdade, da justiça e da misericórdia.
Vivemos um tempo difícil, mas que nos chama a construir uma humanidade mais voltada para o diálogo, a colaboração e o conhecimento mútuo em função da justiça e da paz. O diálogo religioso está na base desse desafio, pois nada mais interessa tanto esse desafio do que a dimensão religiosa do ser humano.
Para refletir
Você se considera comprometido com a paz e a fraternidade a partir da sua vida de fé?
Em que sentido a sua pertença religiosa o compromete com um mundo melhor?
Seminarista Dalcinei Sacheti
Seminarista da Arquidiocese de Passo Fundo. É aluno do oitavo semestre do curso de Bacharelado em Teologia da Itepa Faculdades.
Pe. Ari Antonio dos Reis
Mestre em Teologia Pastoral (Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção); professor na Itepa Faculdades nas áreas de Metodologia e Prática Pastoral e Revelação.
Imagem por Influenzando. Disponível em cathopic.com.
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